Pular para o conteúdo principal
Dami.com.br
Foto de Nick Fewings na Unsplash
Foto de Nick Fewings na Unsplash

Como migrei para a carreira de programação depois dos 30

Data da publicação: 2023-10-17
Data da última atualização: 2023-10-17

Me perguntaram no LinkedIn como foi meu processo de transição de carreira. Adaptei a minha resposta para este blog.

A história é longa e escrita com um punhado de nostalgia, mas espero que traga ao leitor inspiração e novos pontos de vista.


 

A transição foi suave. Eu ocupava um cargo de Analista SR e entrei na área de tecnologia como Analista PL. Não foi um passo muito grande pra trás, nem mesmo na questão financeira.

Vejo pessoas dispostas a abrir mão de muita coisa em troca de um trabalho na área de tecnologia. Dispostas a abandonar uma carreira muitas vezes já consolidada em troca de um estágio em TI.

Isso é uma estratégia válida, principalmente se a TI é, de fato, seu sonho de carreira. Mas o meu desejo com este artigo é mostrar que é possível pular esta etapa.

O primeiro contato com programação

Lembro-me de haver computador em casa pelo menos desde a década de 1990. Sou grato a meu pai por ter feito esse investimento no passado. Isso fez toda a diferença no meu presente.

Entre infância e adolescência, me aventurava criando sites no FrontPage para hospedar no falecido GeoCities e criando fóruns de games sob a plataforma phpBB. 😅

Essa era a aparência do Microsoft FrontPage 2003. Foto de microsoft.wikia.com.

Mesmo assim, meu primeiro contato com uma linguagem de programação de fato só foi no ano de 2005, no meu primeiro emprego como auxiliar técnico de meio período em uma loja de informática, quando me foi entregue uma tarefa importante: refazer o site da empresa.

Eu havia recém comprado e lido um livro de PHP (versão 4) e, animado com as possibilidades que a linguagem oferecia, propus ao meu chefe usar tal tecnologia na criação do novo site.

Além do PHP, também tive contato com banco de dados MySQL e com a linguagem ActionScript, esta num curso pago pela própria empresa.

Juntava-se isso com HTML, CSS, ferramentas como o Dreamweaver (da antiga Macromedia) e o apoio de comunidades como o iMasters e obtinha-se a receita para um site de sucesso! 🔥

Estar inserido num ambiente que te “obrigue” a lidar com desenvolvimento e programação é um excelente empurrãozinho, cujo impulso vale a pena ser aproveitado.

Fazer sites? Tô fora, mas…

Foi um projeto bacana, que trouxe um enorme aprendizado, mas fazer sites nunca nem chegou perto de ser meu sonho (até hoje prefiro terceirizar isso).

Agora, algo que sempre me despertou interesse foi sistemas de gestão.

Com a minha formação em Administração, sempre estive na posição de usuário. Tive a oportunidade de utilizar inúmeros deles.

Embora sonhasse em criar o meu próprio, sem nenhum dos defeitos que me incomodavam, eu não fazia ideia de como fazer. Sempre me pareceu algo distante e pra gente muito inteligente. Contratar uma empresa estava mais distante ainda. 💸💸💸

Depois que saí desse emprego trabalhei em áreas correlacionadas à minha formação, quase sempre ali entre departamento financeiro, RH, logística e planejamento. Foi um hiato de 12 anos entre as primeiras linhas de código e as seguintes.

Vejo, hoje em dia, que esse acúmulo de experiências em departamentos diversos e empresas de ramos variados afetou positivamente a qualidade e a relevância dos softwares de cuja criação participo, por conhecer a respeito do domínio do cliente. Isso hoje é uma grande vantagem competitiva.

Um incômodo com rotinas manuais lentas e repetitivas

No entanto, sempre houve em mim um instinto de melhorar processos e facilitar rotinas de trabalho – minhas e dos meus colegas. Além disso, sempre que houvesse uma oportunidade, participava de projetos de desenvolvimento de sistemas de forma indireta.

Eu era como um satélite. Estava sempre rodeando, orbitando, mas não adentrava a atmosfera do desenvolvimento – embora estivesse começando a entender como funcionava a produção de software.

Muito do que é feito com programação está relacionado a automatizar rotinas manuais. Vale a pena pesquisar a respeito, caso você tenha dúvidas sobre quais projetos criar.

Usar os recursos disponíveis

Para implantar as melhorias que eu almejava, eu usava os recursos que estavam à minha disposição e já detinha certo domínio devido à experiência de trabalho administrativo: Excel e Access.

Eu sabia que era possível criar aplicações complexas com Access, mas macros sempre me pareceram amedrontadoras. Então eu limitava as ferramentas que eu criava a fórmulas de Excel e consultas e formulários que o próprio Access criava automaticamente.

Macros podem conter vírus! 😱

Usar todo o potencial das ferramentas

Certa vez, meados de 2018, foi quando um amigo meu, Analista de Sistemas, clicou no botão “Gravar Macro” no Excel, executou uma sequência de passos com o mouse e parou a gravação.

Em seguida ele chamou o atalho Alt + F11, que fez abrir o editor de scripts do Excel, e mostrou o código na linguagem VBA resultante da gravação.

Minha reação foi como se eu tivesse tomado a pílula vermelha ou comido o fruto da árvore proibida.

Foi uma mistura de sentimentos. Lembranças da época do PHP e do ActionScript vieram à mente. Uma saudade nostálgica de se olhar para um código-fonte.

A minha mente se abriu para macros. Perdi o medo delas e passei a enxergar possibilidades que antes eu não via.

Meu objetivo passou a ser automatizar o maior número de rotinas que eu pudesse com a ajuda do VBA. Minhas planilhas nunca mais seriam as mesmas.

Escolhas, renúncias e recompensas

Muitas vezes escolhi abrir mão de entregar tarefas dentro do prazo em prol de investir tempo na automatização delas, pois isso pouparia tempo no futuro.

Para muitos isso é algo doloroso, mas tente olhar com olhos de investimento com retorno futuro.

Isso é parte integrante de uma mentalidade do menor esforço, bastante importante para nortear programadores. Alguns chamam isso de “mindset de preguiça”.

À medida que eu aumentava meu conhecimento, as planilhas foram tomando novas formas, melhores e mais robustas. Algumas evoluíram tanto que acabaram virando pequenos sistemas internos.

Eventualmente meus superiores ficaram sabendo dessas coisas, e me pediam pra melhorar processos de outras áreas com planilhas automatizadas.

Desta forma fui construindo um portfólio de pequenos “sistemas” empresariais úteis e deixando uma boa referência profissional entre meus superiores e colegas.

Cavando poços mais fundos até encontrar água

O tempo foi passando e eu fui ouvindo falar de outras linguagens de programação e me interessando cada vez mais por isso.

Conheci Python e JavaScript. Passei a criar scripts de automação fora das planilhas com o Node.js.

Me matriculei no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e comecei a buscar oportunidades como desenvolvedor.

Certo dia vi um anúncio de uma vaga de Analista Desenvolvedor Pleno no departamento de TI de uma empresa do mesmo ramo industrial da empresa na qual eu trabalhava.

Consegui uma indicação de um ex-gerente meu, que já conhecia o trabalho que eu fazia e agora era gerente nesta outra empresa. Isso deu uma boa facilitada nas coisas, mas não foi o único fator.

Na entrevista contei a respeito dos benefícios que as planilhas e scripts trouxeram, e elenquei o que eu sabia fazer com o auxílio da tecnologia. Fui contratado! 🥳

Tenha um portfólio com projetos reais e relevantes. Se não for possível fazer projetos reais, então que eles simulem um problema real.

Desde então, até o momento em que escrevo este post, tenho trabalhado com desenvolvimento de software.

Conselhos finais

Diante desta longa história, a principal mensagem que trago a quem deseja entrar nessa área é: não espere uma oportunidade em uma empresa de tecnologia pra começar a programar.

A experiência e maturidade que você acumulou ao longo dos anos são as suas maiores vantagens nesse momento.

Não há desculpas para você não começar agora resolvendo problemas e incômodos que você tem no seu trabalho atual, por exemplo.

Veja, a principal habilidade de um programador é saber dar bons nomes a variáveis e funções. 🤣

A segunda é saber resolver problemas utilizando-se de tecnologia.

Seja curioso. Continue aprendendo e praticando. Aproveite os recursos disponíveis hoje. Pense que sempre vai haver um jeito melhor, mais fácil e mais rápido de realizar uma tarefa.

E isso está disponível em inúmeros escritórios, em praticamente qualquer empresa que disponibiliza um computador para uso exclusivo do trabalhador.

Desejo sucesso e boa sorte.

👋